Pouco antes de acordar já estás acordada. Corriam todos no teu sonho. Para saíres da cama prenderam-te o lençol, o edredon, a colcha e a manta de pêlo que trouxeste de outra luta. À medida que entras na manhã, lembras-te da culpa. É verdade, tu tens culpa. Fazes um sumo a custo porque a salvação pode, um dia, estar nas laranjas. Mas também pode não estar.
Lavas a louça com brio e água fria ...e esses azulejos que nunca mais são partidos, arrancados e enterrados, já viram gente demais nessa casa e demais sobre a gente dessa casa. Tu precisas de te reinventar aos olhos dessas paredes. Lembra-te de tudo que mal não faz. Do quadro dos limões que pareciam cabeças que pareciam vocês: a família criança desenhada por um adulto que não o sabia ser (já contavas não haver uma sem um esqueleto no armário). Também do nariz e boca encostados no vidro, a testa e o ar expirado. É assim que se vê o ar. É assim que se deixa de ver lá para fora. Era assim que esperavas o teu pai, quando já eram horas e estava a chover. E da porta do teu quarto, que tu fechavas à chave, contigo lá dentro. Chorar à frente do espelho. Desenhar caras lavadas. Tirar borbotos das mangas. Pedalar dali para o mar.
Onde o esforço resistente tem de ser maior que o esforço actuante, o caos não é teu amigo.
Muda a louça, troca as paredes, lava o espelho. É já uma questão de dignidade.
Lavas a louça com brio e água fria ...e esses azulejos que nunca mais são partidos, arrancados e enterrados, já viram gente demais nessa casa e demais sobre a gente dessa casa. Tu precisas de te reinventar aos olhos dessas paredes. Lembra-te de tudo que mal não faz. Do quadro dos limões que pareciam cabeças que pareciam vocês: a família criança desenhada por um adulto que não o sabia ser (já contavas não haver uma sem um esqueleto no armário). Também do nariz e boca encostados no vidro, a testa e o ar expirado. É assim que se vê o ar. É assim que se deixa de ver lá para fora. Era assim que esperavas o teu pai, quando já eram horas e estava a chover. E da porta do teu quarto, que tu fechavas à chave, contigo lá dentro. Chorar à frente do espelho. Desenhar caras lavadas. Tirar borbotos das mangas. Pedalar dali para o mar.
Onde o esforço resistente tem de ser maior que o esforço actuante, o caos não é teu amigo.
Muda a louça, troca as paredes, lava o espelho. É já uma questão de dignidade.
8 comentários:
Muito bom!
Começo de dia prometedor,
Não por fazer promessas,
Mas por muito prometer.
Foi a esperança a falar.
à manhã vai ser outro dia :)
obrigada ao piano,
ele também teve culpa!
quando a força de mudar é assim tão forte, não há recordação que se salve.
É verdade, à manhã tem de ser outro dia, esperemos que o Sol nasça.
Já nasceu o sol. O espelho já o reflecte. Agora o único perigo são as granadas dentro do guarda-chuva. Há vontade de saltar mas ainda falta uma esperança nova nascer. Essa esperança depende do Amor. Esse Amor não devia começar por ser por alguém, nem sequer por ti, mas pela arte que flui em ti e que te faz sentir a culpa de não lhe dares corpo, vida e substância. A virtualidade dos teus actos só precisam de um ingrediente para ter tudo... um toque subtil para seres Pilar a criadora de mundos: tinta. Pinta e escreve no mundo palpável. Só o palpável fala connosco. Deixa o electrão pairar sem destino. É a tua mão que precisa de encontrar a tinta (da caneta ou do pincel) para descobrir o que tem de fazer hoje e sempre...
Acho que o terramoto foi de encomenda não? =)
beijos
Para referir o dia a seguir ao de hoje não se escreve "à manhã" mas sim "amanhã". Espero que não leves a mal a correcção.
Cump.
caro anónimo,
não levo nada a mal correcções, até agradeço.
mas este título foi escrito assim de propósito. é uma brincadeira com o que o som das palavras sugere.
Este texto diz me algo...está muito bom =)
(e essa do erro também tem a sua piada ahah)
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