Amy and Michelle, Week-End, 2010, Alex Prager
"Há que dizer-se das coisas o somenos que elas são", Ary dos Santos
As coisas também têm vida e não sou eu que me estou a entregar à superstição. Hoje, parou à frente dos meus olhos esta fotografia. Tivesse ela, a Fotografia, chegado na sexta-feira, não teria eu perdido um segundo a mandá-la de volta à origem. Porque as coisas, tal como nós, não se livram de pertencer. A um lugar ou a alguém ou, mais inevitável até, a muitos lugares ou a muitos alguéns. Mas esta fotografia que, certeira e destinada, me chegou hoje, a partir de hoje também me pertence. Porquê? Porque neste lugar já anoiteceu e ainda assim elas deixam-se ficar cá fora, porque as luzes fluorescentes descontextualizam o barulho do mar que se faz ouvir perto, porque estive aqui ontem. Chamam-se Amy e Michelle, mas, para o efeito, nem é preciso sermos nós sobre aquele deck de madeira. Trouxe-me ao espírito a imagem espacial do meu fim de tarde de sábado. Parte do fim-de-semana já não morre. Foi ao que a Fotografia veio, ponto.
(o Isqueiro que me deste, não o consegui domesticar. Não insisto. É como se ele soubesse e, graças a ele, eu relembrasse que as mulheres não são todas iguais)
3 comentários:
:)
e eu que só li isto agora.
excelente fim de tarde e de semana que já não morre e tantas outras coisas imortais já enterradas.
"porque as coisas, tal como nós, não se livram de pertencer. A um lugar ou alguém ou, mais inevitável até, a muitos lugares ou a muitos alguéns", ou a nenhum lugar nem a ninguém.
Alguém que eu tinha em elevada estima me disse um dia que as pessoas não pertencem umas às outras e que devemos manter, sempre, a nossa individualidade. Eu hoje permito-me discordar porque sei que em determinados momentos perdemos bocados de nós. Arrancados ou roubados com desprezo.
Enviar um comentário